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"A Condição Humana" - Hannah Arendt

  • Filosofia
  • 19 de set. de 2014
  • 5 min de leitura

Hannah Arendt, filósofa alemã contemporânea...

  • [Prólogo - Hannah Arendt reflete sobre a busca do homem em desumanizar-se, sua tentativa de fuga de sua condição humana favorecida pela lógica da modernidade, o esvaziamento dos discursos e a negação do trabalho humano como instrumento de sustento.]

  • A banalidade da declaração não deve obscurecer o fato de quão extraordinária ela é, pois embora os cristãos tenham chamado esta terra de "vale de lágrimas" e os filósofos tenham visto o próprio corpo do homem como a prisão da mente e da alma, ninguém na história da humanidade jamais havia concebido a terra como prisão para o corpo dos homens nem demonstrado tanto desejo de ir, literalmente, daqui à Lua. [p.10]

  • Recentemente, a ciência vem se esforçando por tornar "artificial" a própria vida, por cortar o último laço que faz do próprio homem filho da natureza. O mesmo desejo de fugir da prisão terrena manifesta-se na tentativa de criar a vida numa proveta, no desejo de misturar, "sob o microscópio, o plasma seminal congelado das pessoas comprovadamente capazes a fim de produzir seres humanos superiores"[...] e talvez o desejo de fugir á condição humana esteja presente na esperança de prolongar a duração da vida humana para além do limite dos cem anos. [p.10]

  • Esse homem futuro[...] parece motivado por uma rebelião contra a existência humana tal como nos foi dada - um dom gratuito vindo do nada (secularmente falando), que ele deseja trocar, por assim dizer, por algo produzido por ele mesmo. [p.10]

  • Ainda não sabemos se esta situação é definitiva; mas pode vir a suceder que nós, criaturas humanas que nos pusemos a agir como habitantes do universo, jamais cheguemos a compreender, isto é, a pensar e a falar sobre aquilo que, no entanto, somos capazes de fazer. [p.11]

  • Neste caso, seria como se o nosso cérebro, condição material e física do pensamento, não pudesse acompanhar o que fazemos, de modo que, de agora em diante, necessitaríamos realmente de máquinas que pensassem e falassem por nós. Se realmente for comprovado esse divórcio entre o conhecimento[...] e o pensamento, então passaermos, sem dúvida, a condição de escravos indefesos,[...] criaturas desprovidas de raciocínio, à mercê de qualquer engenhoca tecnicamente possível, por mais mortífera que seja. [p.11]

  • Sempre que a relevância do discurso entra em jogo, a questão torna-se política por definição, pois é o discurso que faz do homem um ser político. [p.11]

  • [...] o fato de que habitam um mundo no qual as palavras perderam o seu poder. E tudo o que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que pode ser discutido. [p.12]

  • Haverá talvez verdades que ficam além da linguagem e que podem ser de grande relevância para o homem no singular, isto é, para o homem que, seja o que for, não é um ser político. Mas os homens no plural, isto é, os homens que vivem e se movem e agem neste mundo, só podem experimentar o significado das coisas por poderem falar e ser inteligíveis entre si e consigo mesmos. [p.12]

  • Mais uma vez, trata-se de um aspecto fundamental da condição humana [o trabalho como condição de sustento]; mas a rebelião contra esse aspecto, o desejo de libertação das "fadigas e penas" do trabalho é tão antigo quanto a história de que se tem registo. Por si, a isenção do trabalho não é novidade: ja foi um dos mais arraigados privilégios da minoria. [p.12]

  • Mas isto é assim apenas na aparência. A era moderna trouxe consigo a glorificação teórica do trabalho, e resultou na transformação efetiva de toda a sociedade em uma sociedade operária. [p.12]

  • Até mesmo presidentes, reis e primeiros-ministros concebem seus cargos como tarefas necessárias à vida da sociedade; e entre os intelectuais, somente alguns indivíduos isolados consideram ainda o que fazem em termos de trabalho, e não como meio de ganhar o próprio sustento. O que se nos depara, portanto, é a possibilidade de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho [...]. Certamente nada poderia ser pior. [p.13] [!]

  • [me pergunto se este ponto de vista está efetivamente correto]

  • Respostas são dadas diariamente no âmbito da política prática, sujeitas ao acordo de muitos; jamais poderiam se basear em considerações teóricas ou na opinião de uma só pessoa, como se tratasse de problemas para os quais só existe uma solução possível. [p.13]

  • [...] a irreflexão - a imprudência temerária ou a irremediável confusão ou a repetição complacente de "verdades" que se tornaram triviais e vazias - parece ser uma das características do nosso tempo. [p.13]

  • [...] o livro limita-se a uma discussão do labor, do trabalho e da ação. [p.13]

  • Limito-me, de um lado, a uma análise daquelas capacidades humanas gerais decorrentes da condição humana, e que são permanentes, isto é, que não podem ser irremediavelmente perdidas enquanto não mude a própria condição humana. [p.14]

  • Com a expressão vita activa, pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. [p.15]

  • O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano, cujos crescimento espontâneo, metabolismo e eventual declínio têm a ver com as necessidades vitais produzidas e introduzidas pelo labor no processo da vida. A condição humana do labor é a própria vida [p.15]

  • O trabalho é a atividade correspondente ao artificailismo da existência humana [...]. O trabalho produz um mundo "artificial" de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. [...] A condição humana do trabalho é a mundanidade. [p.15]

  • A ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, o fato de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. [p.15]

  • Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política [p.15]

  • [...] Deus originalmente criou o Homem (adam) - a ele, e não a eles, de sorte que a pluralidade dos seres humanos vem a ser o resultado da multiplicação. [p.16]

  • [usando a metáfora bíblica Arendt destaca a pluralidade como fruto de uma ação humana. A partir da singularidade (adão) somente a multiplicação possibilita a pluralidade. Sem a pluralidade seríamos apenas clones, cópias dotadas de mesma natureza e mesma essência, seres totalmente previsíveis]

  • A pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir. [p.16]

  • As três atividades e suas respectivas condições têm íntima relação com as condições mais gerais da existência humana: o nascimento e a morte [...]. O labor assegura não apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a vida da espécie. O trabalho e seu produto, o artefato humano, emprestam certa permanência e durabilidade à futilidade da vida mortal e ao caráter efêmero do tempo humano. A ação, na medida em que se empenha em fundar e preservar corpos políticos, cria a condição para a lembrança, ou seja, para a história. [p.16]

  • Os homens são seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência [...] constantemente, as coisas que devem sua existência exclusivamente aos homens também condicionam seus autores humanos. Além das condições nas quais a vida é dada ao homem na Terra e, até certo ponto, a partir delas, os homens constantemente criam suas próprias condições que, a despeito de sua variabilidade e sua origem humana, possuem a mesma força condicionante das coisas naturais. [p.17]

  • [...] a condição humana não é o mesmo que a natureza humana... [p.17]

 
 
 

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